20 de jun. de 2008

liberté

Nos meus cadernos de escola

Nesta carteira nas árvores

Nas areias e na neve

Escrevo teu nome

Em toda página lida

Em toda página branca

Pedra sangue papel cinza

Escrevo teu nome

Nas jungles e no deserto

Nos ninhos e nas giestas

No céu da minha infância

Escrevo teu nome

Nas maravilhas das noites

No pão branco da alvorada

Nas estações enlaçadas

Escrevo teu nome

Nos meus farrapos de azul

No tanque sol que mofou

No lago lua vivendo

Escrevo teu nome

Nas campinas do horizonte

Nas asas dos passarinhos

E no moinho das sombras

Escrevo teu nome

Em cada sopro de aurora

Na água do mar nos navios

Na serrania demente

Escrevo teu nome

Até na espuma das nuvens

No suor das tempestades

Na chuva insípida e espessa

Escrevo teu nome

No trampolim desta porta

Nos objetos familiares

Na língua do fogo puro

Escrevo teu nome

Em toda carne possuída

Na fronte de meus amigos

Em cada mão que se estende

Escrevo teu nome

Na vidraça das surpresas

Nos lábios que estão atentos

Bem acima do silêncio

Escrevo teu nome

Em meus refúgios destruídos

Em meus faróis desabados

Nas paredes do meu tédio

Escrevo teu nome

Na ausência sem mais desejos

Na solidão despojada

E nas escadas da morte

Escrevo teu nome

Na saúde recobrada

No perigo dissipado

Na esperança sem memórias

Escrevo teu nome

E ao poder de uma palavra

Recomeço minha vida

Nasci pra te conhecer

E te chamar

Liberdade

19 de jun. de 2008

enjoying the light



Quando é dia
teu olhar
água clara
teu olhar
pela fresta
do olhar
procurava
teu olhar
minha alma, minha calma, estrela-dalva.
Ventre, serpente, lua,

coisa tua,
rosa só de mucosa,
coisa crua,
muda, carnuda, seda,
ser da vida
sede viva
veio no apelo me rogar.
Ida na proibida idade,

pois arde
que seja tarde.
Ardilosa, dosa prosa sinuosa

estrela-guia
que me salva quando chega o dia.
o prazer de usar a linguagem é um dos prazeres humanos maiores.