28 de jul. de 2010

Tô brincando de ilha

Vamo brincá que a alma é de uma terceira matéria, uma quântica quimera, e alguém lá no céu descobriu que a gente não vai mais pro beleléu? Vamo brincá que não há mais carros, só asas e barcos, e que a poesia viceja e grassa como grama (como diz o abade), e é porreta ser poeta no Planeta? Vamo brincá

de teta

de azul

de berimbau

de doutora em letras?

E de luar? Que é aquilo de vestir um véu todo irisado e rodar, rodar...
Vamo brincá de pinel? Que é isso de ficá loco e cortá a garganta dos otro?
Vamo brincá de ninho? E de poesia de amor?

nave

ave

moinho

e tudo mais serei

para que seja leve

meu passo

em vosso caminho.

25 de jul. de 2010

Primeiras

Não era grande coisa. Mas nós vimos coisas um no outro, e a besteira estava formada. A gente se foi a primeira vez numa porção de coisas. Sei lá que importância isso tem, mas as pessoas tendem a atribuir virtudes mágicas às primeiras vezes. Seja lá do que for. E assim primeiras vezes fomos, ele e eu, muitas primeiras vezes.

5 de jul. de 2010

Confusão

Estava anoitecendo, e foi como se todas as luzes se acendessem ao mesmo tempo. Clareia-me a idéia de fazer todas as coisas que as pessoas fazem quando querem ficar juntas. Deixar de ser só, pra ser nó. Passar dias assim, um dentro do outro. Os cheiros, os líquidos, os ruídos. Não saber mais o que é de quem, dentro e fora. Confundir sem confusão. Embevecer. Não quero saber quanto tempo vai durar. Desconfio que só começarei a contar os dias a partir daquele dia em que isso terminar.
o prazer de usar a linguagem é um dos prazeres humanos maiores.