28 de ago. de 2012

Yellow Tree


Porque chovia intensamente e estava tudo gris, monocromático, a árvore de flores amarelas sobressaía na paisagem, como se estivesse acesa. Não seria o contrário e o sol que ressaltava as cores? Mas a árvore amarela  destacava-se no dia cinza. Destacava tanto que parecia até que embaixo dela ensolarava. Quis chegar mais perto. Talvez fosse verdade que de suas pétalas eram lançados raios de sol. Alcançou sua sombra iluminada - sol não fazia,  mas tinha algo de mágico no ar que a circundava. Algum encanto capaz de arrepiar a pele e encher a alma de alegria.


22 de ago. de 2012

Sede



"Talvez fosse melhor não matar a sede, ou não lhe restaria mais desejo algum", pensou. Descartou imediatamente tal ideia, por achá-la meio amalucada. Bebeu tudo o que pôde, até saciar-se por completo. Depois se arrependeu. Havia pensado certo. Era melhor ter mantido na boca seca a vontade da água. Estava agora vazia de tudo, cheia de nada. Toda insaciada.




15 de ago. de 2012

02:25 pm

Sentou-se no banco mais sombreado da praça que ficava no caminho para o local do encontro marcado. O que iria fazer era muito importante. Precisava pensar.
Pensou, pensou. Imaginou cada detalhe do ato iminente. Ensaiou e reensaiou, em sua mente, cada gesto e cada palavra da próxima atitude. 
Em vão. Quando aconteceu, deu-se tudo diferente. Contraditórios atos-pensamentos.
Desde esse dia, ela primeiro age pra depois pensar.   



9 de ago. de 2012

Parênteses




Para Clarice, as sexta-feiras tem três pontinhos, os sábados exclamações e os domingos parênteses, nos quais sempre encaixa João. Sempre e ainda João. Não consegue evitar. E todo domingo ela se perde nas lembranças. Nesse último, lembrou que certa vez João havia lhe dito que os sonhos existiam pra que mesmo dormindo as pessoas pudessem ficar juntas. Isso fazia muito sentido quando o tempo que passavam lado a lado e acordados não era suficiente para matar a vontade de estarem juntos, usufruindo da companhia um do outro. Hoje Clarice já nem sonha. E quando sonha é só tormento. Desejos que afligem. Perde-se no tempo e já nem lembra mais quando foi exatamente que João deixou de ser seu pensamento preferido.

5 de ago. de 2012

perigo

você zabaneiro
eu imaculada
estava na cara
a grande enrascada 



o prazer de usar a linguagem é um dos prazeres humanos maiores.