Entrou no ônibus. Janela livre, uma dádiva. Trinta segundos depois de sentar, lembrou, como de costume sempre lembrava: esqueci o livro, um livro. Qualquer distração. A viagem será longa. Milhões aproximam-se nas ruas do Recife, o trânsito das seis e meia. Tanta gente junta, tanta gente só. O vasto número de pessoas sequer dilui minha solidão. Solidez de mãos e corações. É grave. Dessa vez, o cheiro exalado pela Fábrica é indubitável: chocolate. Chocolate, leite e manteiga borbulhando na caldeira, misturados. O cheiro em nada me lembra o teu sopro, mas a cor. Imagino montanhas, tuas costas. E o calor. O teu calor que eu recebo quando me molhas de suor.
Sabe que eu não sou de meios termos, mas com você passei dos limites, de
todos. Eu devia ter ido embora naquela noite, depois da primeira garrafa de
vinho,...