7 de dez. de 2010

Pacifico


Velas tremeluzem. Folhas flutuam. Cortinas se movimentam. Leve e calma. Sou, de novo, brisa. E trago mil ternuras pra você.

5 de dez. de 2010

aos namorados

aos corações namorados
desejo uma forração de pneu
para tratores, é desnivelada
a estrada do amor

e o raro dom de transformar
as máquinas pesadas de convivência
em miniaturas de máquinas pesadas
da convivência

uma jaqueta corta-frio para distâncias
convenientes e forçadas, brigas de quarta
série primária e joguinhos de salão
ao relento, já aos corações devotados

aos seus corações namorados desejo,
sobretudo, o enrosco, aquele laço fatal
do nenhenhem do carinho e o tempo
medido por um relógio de pulso quebrado.

23 de nov. de 2010

Doida.


Não sossegou enquanto não a fez louca.
Para então poder dizer:
– Doida.

22 de nov. de 2010

Descobertas

Às vezes confundo esquerda com direita, Conselheiro com Domingos, Ford com Chevrollet, Miró com Kandisnky e amor com qualquercoisa. Coincidências me atraem, me vidram. Incoerências me assustam. E, por vezes, me maltratam.
Essa vida é mesmo um segredo. Certa vez te perguntei se há mais beleza no mistério ou na descoberta. Penso num homem velho, uma vida cheia, uma vida e tanto. É impossível que as descobertas ultrapassem os mistérios. Podem ser muitas, muitas as descobertas, mas os mistérios serão sempre infinitos. Demorei muito pensando nisso. E eu prefiro as descobertas. "Mistérios sempre há de pintar por aí". As descobertas é que fazem a matéria da gente. Como se de alguma forma a gente fosse o que a gente descobre, por nós mesmos ou pelos outros, tanto faz. Aceito isso. Aceito essa minha preferência pelas descobertas e as quero, as desejo. Quero descobrir.

10 de nov. de 2010

Amor é paz?

Muitos me desejaram paz e amor em 75. Mas havendo amor haverá paz? Amor é o contrário radioso dela. É inquietação, agitação, vontade de absorver o objeto amado, temor de perdê-lo, sentimento de não merecê-lo, ânsia de dominá-lo, masoquismo de ser dominado por ele, dor de não o haver conhecido antes, dor de não ocupar o seu pensamento 24 horas por dia, e mais dias pedir ao dia para ocupá-lo, brasa de imaginá-lo menos preso a mim do que eu a ele, desespero de o não guardar no bolso, junto ao coração, ou fisicamente dentro deste, como sangue a circular eternamente e eternamente o mesmo. Amor é isso e mais alguma triste coisa, as serpentes, os ratos escarninhos, os imundos insetos do ciúme, que tanta miséria fazem cometer aos mais puros. E a tristeza incurável do tempo que não passa fora de nós, passa é dentro e na pele marcada da gente, lembrando que eternidade é ilusão de minutos, e o ato de amor deste momento já ficou mergulhado em ter sido. Amor é paz?
Mais prudente é fazer como Adalgisa Nery, que em seu cartão de boas-festas escreve só uma palavra: Paz. Já constitui voto bastante ambicioso, e eu lhe proporia emenda: Meia paz, ou um grama de paz.Amor se deseja ao próximo, mas será que ele está à espera de nossos amigos, ou de nós mesmos, em alguma loja de disponibilidades? O malandro não acode a acenos, é esquivo, farsista, ataca sem aviso prévio, não se submete a prazos e juras, voa sem deixar endereço. Não dá bola a cartões-postais. Ou a quem quer que seja. No máximo, deseje a seu amigo, ou amiga, que o reconheça quando ele passar. E tenha muito cuidado para não sofrer com ele acima e além de suas forças.
Cheguei ao ponto construtivo destas considerações. João Brandão, que às vezes é modelo de sabedoria relativa (a absoluta consiste em deixar a fantasia agir), contou-me que todo ano recebe um cartão nestes termos: "CALMA, RAPAZ." "E quem é que te manda este cartão?" perguntei-lhe. "Eu mesmo. Entro na fila, compro o selo, boto na caixa. Porque se eu não fizer isto, ninguém o fará por mim. Ao receber a mensagem, considero-a mandada por amigo vigilante e discreto, e faço fé na recomendação, que eu não saberia me impor, diante do espelho." Pausa e continuação: "Tem me ajudado muito. Você já reparou que ninguém deseja calma a ninguém, na época de desejar coisas? Deseja-se prosperidade, paz, amor, isso e aquilo ('tudo de bom pra você'), mas todos se esquecem de desejar calma para saborear esse tudo de bom, se por milagre ele acontecer, e principalmente o nada de bom, que às vezes, acontece em lugar dele. Como você está vendo, não chega a ser um voto que eu dirijo a mim próprio, pelo correio. É uma vacina."


Vacinemo-nos, amigos.

2 de nov. de 2010

bem-vida

panfleto dos sentimentos
permito todos os veículos
não me calarem por dentro.
qualquer emoção nova,
trazida pela mãe-nave,
seja bem-vinda.
ida de todos os olhares.
o vácuo de uma despedida.
petrificando navida
renova
ação dos meus ares.

10 de out. de 2010

dois


só os dois
sós os dois
sóis os dois

4 de out. de 2010

Eternas Repetições

Atirei um limão n’água,
foi levado na corrente.
Senti que os peixes diziam:
Hás de amar eternamente.


Atirei um limão n’água,
não fez o menor ruído.
Se os peixes nada disseram,
tu me terás esquecido?

3 de out. de 2010

mel de melancolia

chove, chove
é forte o vento
tudo em mim é sofrimento

nasce o sol
melhora o tempo
não demora o meu lamento

6 de set. de 2010

sonho vento

que tormento
cato um sonho
sonho um vento

4 de set. de 2010

your love was my relief my love is your release


Ele a estreitou contra si e levemente ela adormeceu em seus braços. Nos braços dele, mesmo no auge da agitação, sempre se acalmava. Ele contava a meia voz bobagens para ela, palavras tranqüilizadoras ou engraçadas que repetia num tom monótono.
Quando dormiam, ela o segurava como na primeira noite: apertava-lhe firme o pulso, um dos dedos, ou o tornozelo.
Ele dizia consigo mesmo: deitar-se com uma mulher e dormir com ela, eis duas paixões não apenas diferentes, mas quase contraditórias. O amor não se manifesta pelo desejo de fazer amor (esse desejo se aplica a uma multidão inumerável de mulheres), mas pelo desejo do sono compartilhado (esse desejo diz respeito a uma só mulher).

1 de ago. de 2010

a macieira




eu maçã feita
e pra lá de madura
ainda me desdobro
em brancas flores

28 de jul. de 2010

Tô brincando de ilha

Vamo brincá que a alma é de uma terceira matéria, uma quântica quimera, e alguém lá no céu descobriu que a gente não vai mais pro beleléu? Vamo brincá que não há mais carros, só asas e barcos, e que a poesia viceja e grassa como grama (como diz o abade), e é porreta ser poeta no Planeta? Vamo brincá

de teta

de azul

de berimbau

de doutora em letras?

E de luar? Que é aquilo de vestir um véu todo irisado e rodar, rodar...
Vamo brincá de pinel? Que é isso de ficá loco e cortá a garganta dos otro?
Vamo brincá de ninho? E de poesia de amor?

nave

ave

moinho

e tudo mais serei

para que seja leve

meu passo

em vosso caminho.

25 de jul. de 2010

Primeiras

Não era grande coisa. Mas nós vimos coisas um no outro, e a besteira estava formada. A gente se foi a primeira vez numa porção de coisas. Sei lá que importância isso tem, mas as pessoas tendem a atribuir virtudes mágicas às primeiras vezes. Seja lá do que for. E assim primeiras vezes fomos, ele e eu, muitas primeiras vezes.

5 de jul. de 2010

Confusão

Estava anoitecendo, e foi como se todas as luzes se acendessem ao mesmo tempo. Clareia-me a idéia de fazer todas as coisas que as pessoas fazem quando querem ficar juntas. Deixar de ser só, pra ser nó. Passar dias assim, um dentro do outro. Os cheiros, os líquidos, os ruídos. Não saber mais o que é de quem, dentro e fora. Confundir sem confusão. Embevecer. Não quero saber quanto tempo vai durar. Desconfio que só começarei a contar os dias a partir daquele dia em que isso terminar.

29 de jun. de 2010

poema trópico

queria tomar um café
com bananas
em companhia da gioconda
dos subúrbios

lhindonésia

minha parafernalha
a minha pilantrália
a minha tropilantra

dia amarelo de verão
céu azul
e meu amor vermelho
por lhindonésia

não vou chateá-la
falando do barquinho
de Ipanema
ou de cinema
novo

morena rosa, boca-de-ouro
mulher amada
maria ninguém
cheirando a abacaxi

encostada ao pau-brasil
me convida para ouvi-la
desafinar uma canção
sobre a tardinha.



(Bruna Beber)

29 de mai. de 2010

enquanto dorme muita gente

s
i
n
t
o

os pés no céu
a língua no mel
só falta o beatles a granel

26 de abr. de 2010

Além do corpo, pensa-mento(e)



Eu danço.
Mãos e pés, músculos, cérebro...
Dei um salão aos meus pensamentos!
Tudo gira,
Tudo vira,
Tudo salta,
Samba,
Valsa,
Canta,
Ri!

6 de abr. de 2010

quando eu chovo



aqueles acontecimentos
me transformaram
numa nuvem
dessas densas e nebulosas

mas - ora essa!
quando chovo
só chovo botões
de flores
amarelas

deixo tudo
claro e belo
enxuto e simples
cheirando a rosas

31 de mar. de 2010

prazê

- clareza
- leveza
- em cima da mesa?
- no chão
- colchao..
- sem "não"
- sei nao
- pode ser
- padecer
- te querer
- nunca
- como ?
- como nunca!


um dia improvisa
outro dia prevê
só experimentando a gente vai saber

Correr da vida

O correr da vida
embrulha tudo.
A vida é assim:
esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois
desinquieta.
O que ela quer da gente
é coragem.


(Guimarães Rosa)

14 de mar. de 2010

Plano de Fuga



Examino
minha pele

procurando
pelo poro

com SAÍDA
escrito

15 de fev. de 2010

pensamento erra




aves
de ramo
em ramo
meu pensamento
de rima
em rima
erra

30 de jan. de 2010

around your mind



I'd like to walk around in your mind someday
I'd like to walk all over the things you say to me

I'd like to run and jump on your solitude
I'd like to rearrange your attitude to me

26 de jan. de 2010

toque

Toque baião, toque frevo,
toque rock, toque rumba,
mas não toque nesse assunto
toque o mundo, toque fundo
só não toque nesse assunto
toque tudo sempre assim

eu quero que você se toque
em cada parte de mim

22 de jan. de 2010

under control




i dont wanna change your mind
i dont wanna waste your time

10 de jan. de 2010

golden storm

hey, that's no way to say goodbye.
our steps will always rhyme
you know my love goes with you as your love stays with me
it's just the way it changes,
like the shoreline and the sea,
but let's not talk of love or chains and things we can't untie,
i loved you in the morning, our kisses deep and warm,
your hair upon the pillow
like a sleepy golden storm

7 de jan. de 2010

pré ocupações

ocupada demais
com suas preocupações
ela vive se ocupando
previamente
com coisas que nem sabe se virão

por hipóteses
hiperconsumida


mal sabe ela
que problemas
são pra serem resolvidos
só quando aparecem



(para Beatriz Miranda)

4 de jan. de 2010

olhos no espelho


refletindo
no espelho
vejo reluzir

dois pontinhos
negros e brilhantes
serão pérolas
ou pequenos diamantes?

são meus olhos
que pararam de chorar

e lágrimas foram
lubrificantes

1 de jan. de 2010

gasta

gastos, palavra gasta
e sola
e saliva
e coração
o prazer de usar a linguagem é um dos prazeres humanos maiores.