21 de jun. de 2012

pra menina dos olhos coloridos



Ela tinha 22 anos quando a conheci. Morava no 22º andar, a 2 ruas da minha casa. Usávamos, coincidentemente, perfume e desodorante iguais e tínhamos a mesma facilidade pra sorrir. Dormir era pros fracos. Era mesmo. Hoje trocamos, com facilidade, uma sexta enluarada e de brisa morna por uma bela noite de sono. 
Quem não acredita em destino que tente me convencer do contrário (e, certamente, não vai ter sucesso), mas, assim que a conheci, percebi que ela tinha vindo pra ficar. Não por acaso. De propósito. Projeto do divino, ou dessa coisa maior na qual eu teimo em acreditar, me contradizendo, por vezes perdidas, quando me perco. E foi justamente em um momento desses de perdição que me caiu a ficha do quão propositalmente ela me apareceu. Apareceu e foi ficando, aqui tão perto e sempre tão presente. Acertei em cheio. 
Uma vez ouvi alguém dizer que é quase impossível fazer amigos verdadeiros depois dos 20 anos. O que é verdade. Mas acontecemos, e não foi difícil. Pelo contrário, nos tornamos amigas de um modo rápido, fácil e simples. O quase nos salvou. Exceção somos. E o tamanho da nossa amizade é diretamente proporcional à raridade dela. Somos raras, assim como é raro ter um olho de cada cor. 

15 de jun. de 2012

Sinais


Ele tinha estrelas na face. Evidentes, mas que - engraçado - só enxerguei quando a nossa proximidade era bastante para um beijo. Também três marias, as mesmas, tal como em meu peito. Ângulos, distâncias e curvatura iguais. Mudavam os lados. As dele, na face direita. As minhas, no peito esquerdo. Também mudavam as direções: eu horizontal, ele vertical. Não sei qual qual a dimensão disso tudo (ah! as coincidências...), só sei que fiquei com uma vontade enorme de, juntando os pontos, encostar o ouvido dele no meu coração.  

12 de jun. de 2012

Grilos

É madrugada. Escuto o ronco de um carro velho passando na avenida. Será você?
O ronco se mistura com o barulho dos grilos. Ou serão cigarras? Nunca soube distinguir. Era você quem me dizia. E me perco.
Percebo, então, que nunca escutara grilos (ou cigarras) no meu quarto, mas no seu. Um seu que já foi tão nosso. Reticências. Grilos por aqui é algo realmente suspeito. Devo estar ouvindo coisas. Sonhando sons. Ou talvez só esteja querendo imenso que você apareça. 



5 de jun. de 2012

lida em hilda

"De luas, desatino e aguaceiro
Todas as noites que não foram tuas.
Amigos e meninos de ternura
Intocado meu rosto-pensamento
Intocado meu corpo e tão mais triste
Sempre à procura do teu corpo exato.
Livra-me de ti. Que eu reconstrua
Meus pequenos amores. A ciência
De me deixar amar
Sem amargura. E que me dêem
Enorme incoerência
De desamar, amando. E te lembrando
- Fazedor de desgosto -
Que eu te esqueça."


hilda hilst
o prazer de usar a linguagem é um dos prazeres humanos maiores.