29 de mai. de 2008

uma doçura de burrice

Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.


Clarice Lispector

3 comentários:

  1. Muito linda essa discussão de Clarice com seu interior.
    Ela fala nada mais que a verdade.
    O certo é a pessoa não entender, pois o mundo é muito complicado, as pessoas são complicados e nao fazem o mínimo esforço para se simplificarem aos olhos dos outros.
    E o máximo que devemos entender, como ela disse, é que não entendemos nada. Perfeito :)

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  2. Você sabe que o Bobo sempre vai estar contigo..
    Se quiser topar com ele, levanta teus olhos :)

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o prazer de usar a linguagem é um dos prazeres humanos maiores.